Pesquisadores da UFMG comprovam a viabilidade de converter os grãos irregulares em combustível
Depois de três anos de testes, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais comprovaram a viabilidade de se converter óleo de café em biodiesel. A novidade surge justamente no momento em que o governo começa a apostar na produção do diesel a partir de óleo vegetal para reduzir a dependência externa do País e incentivar o agronegócio. O estudo pioneiro dos professores da Escola de Engenharia da UFMG sugere a produção de combustível a partir de grãos de café defeituosos, considerados impróprios para o consumo.
A intenção da pesquisa, no entanto, não é estabelecer uma nova fonte energética. "Queremos dar uma alternativa de uso para os grãos defeituosos", afirma o coordenador do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Café da Universidade, Leandro Soares de Oliveira. O óleo de café, segundo ele,poderia ser reaproveitado nas próprias fazendas e cooperativas produtoras, como combustível para equipamentos, tratores e caminhões. Além de econômica, a nova alternativa reduziria o impacto ambiental no meio rural. A tecnologia para a produção do biodiesel a partir de grãos impróprios para o consumo já está em fase de aperfeiçoamento.
Os grãos defeituosos representam, em média, 20% da produção nacional de café, que na safra 2006/2007 deve atingir 40,62 milhões de sacas de 60 quilos, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O Brasil é o maior produtor mundial de café. Minas Gerais responde por quase a metade da safra. A previsão é que cerca de 26 milhões de sacas sejam exportadas e o restante da produção fique no mercado interno.
QUALIDADE
Grande parte das sementes defeituosas de café ficam no mercado interno, porque não podem ser aproveitadas para exportação. A qualidade do produto consumido no País foi questionada pelo Sindicato das Indústrias do Café de Minas Gerais (Sindcafé-MG) e motivou a pesquisa desenvolvida pelos pesquisadores da UFMG. O Sindicato propôs um "fim alternativo" para as sementes defeituosas que não são vendidas ao exterior. "No futuro, os consumidores terão apenas café de grãos saudáveis para consumir", disse o presidente do Sindicafé e diretor de qualidade da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Almir José da Silva Filho.
Como os grãos impróprios, mesmo em menor escala, acabam sendo ofertados no mercado internacional, o projeto desenvolvido na UFMG também poderia melhorar a imagem da cafeicultura brasileira no exterior. "Os Estados Unidos, por exemplo, até compram grãos de menor qualidade, mas os países escandinavos e o Vaticano rejeitam completamente", disse Silva.
Uma outra vantagem do projeto apontada por ele é que, ao estabelecer uma nova finalidade para essas sementes, os produtores terão a possibilidade de regular a oferta de café em períodos de supersafra.
EXTRAÇÃO
Os resultados da pesquisa realizada em Minas Gerais mostraram que a cada 100 quilos de café é possível obter 12 quilos de óleo. Desses 12 quilos, nove são convertidos em biodiesel. Em comparação com outras oleaginosas, a produção de óleo a partir do café é muito baixa. Da semente de soja, por exemplo, consegue-se extrair 20% de óleo. Da mamona, retira-se em média 45% e do babaçu, 66%.
O fato de a cultura do café estar consolidada no País e contar com uma rede de agricultores e empresários organizados representa, de acordo com o cordenador da pesquisa, um custo menor no processo de aproveitamento dos grãos para a produção de combustível. A separação das sementes, por exemplo, não seria um trabalho a mais, porque já ocorre no beneficiamento convencional.
O que ainda não existe são núcleos de produção nas próprias áreas de plantio. "Criá-los, do ponto de vista do investimento, não teria um custo elevado", disse Oliveira. "Teríamos mais uma fonte de renda, gerando riqueza e postos de trabalho", completou Silva.
TORREFAÇÃO
O coordenador do projeto destaca que o interesse do Sindcafé é melhorar a qualidade do grão torrado e não produzir biodiesel. "O maior impacto seria retirar esses grãos defeituosos do mercado de torrefação."
O estudo com o café é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). O próximo passo, segundo Oliveira, será a análise econômica do processo.
By Eduardo Kattah
http://www.revistacafeicultura.com.br
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